Saiba como salvar sua pele literalmente
Atualizado: 11 de set. de 2020
Estudos indicam que o protetor solar pode ser mocinho e vilão ao mesmo tempo. Leia e entenda como se proteger do sol corretamente e alavancar a vitamina D

Muitas pessoas levam como verdade que há uma correlação direta entre o risco de se desenvolver um melanoma — a forma mais grave e mortal de câncer de pele — e a quantidade de queimaduras de sol que uma pessoa tem ao longo de sua vida, principalmente durante a infância. Ainda assim, no que diz respeito aos efeitos conhecidos dos filtros solares, é importante ressaltar algumas descobertas mais recentes.
Primeiro, se tomarmos os Estados Unidos como exemplo, a taxa de novos casos de melanoma entre adultos triplicou desde a década de 1970, segundo o National Cancer Institute (NCI), mesmo que o uso de protetor solar só tenha aumentado durante esse período. Ainda, de acordo com o grupo ativista sem fins lucrativos EWG (Environmental Working Group), a maioria dos cientistas e agências de saúde públicas não tem encontrado evidências de que filtros solares usados de forma isolada e sem outras medidas de proteção podem ajudar a prevenir o melanoma. E em lugares onde a população é majoritariamente caucasiana e o índice de radiação ultravioleta está entre os mais altos, como no caso de Blumenau, no sul do Brasil, o aumento registrado na taxa de novos casos em 30 anos chega a ser de cinco vezes.
A EWG também aponta que diversos estudos já concluíram que filtros solares com alto FPS tendem a iludir as pessoas, induzindo-as a aplicar uma quantidade menor desses produtos na pele com uma falsa sensação de segurança e a se expor a mais irradiação ultravioleta prejudicial do que quem usa produtos com menor FPS e em maior quantidade. O que acaba ocorrendo é que essas pessoas sofrem queimaduras por raios UVB tanto quanto os banhistas que não estão protegidos e ainda podem absorver mais radiação UVA, que é extremamente nociva e penetra mais profundamente na pele. Sem contar que a proteção extra que um filtro com FPS 100 oferece em relação a um de FPS 50, inclusive, quase insignificante.
Um outro problema é que esses produtos com um alto FPS requerem concentrações altas de componentes químicos capazes de filtrar raios solares e que podem oferecer riscos de saúde ao penetrar a pele, levando desde a dano nos tecidos até a reações alérgicas e desequilíbrio hormonal. Além disso, ainda segundo a EWG, limitar a exposição ao sol pode acarretar no risco de deficiência de vitamina D, já que filtros solares inibem a produção da substância pela radiação solar.
Filtro solar: vitamina ou hormônio?

Vale mencionar que a vitamina D, que é tecnicamente um hormônio lipossolúvel, é importantíssima para o crescimento e a manutenção de ossos saudáveis e fortes, além de ajudar também a fortalecer o sistema imunológico na defesa contra doenças crônicas ou autoimunes. Em resposta aos raios UVB, o próprio corpo forma precursores na pele — moléculas de colesterol — que depois são convertidos pelo fígado e os rins na forma ativa da vitamina D, a única produzida pelo nosso organismo. Sabe-se que pessoas de pele mais escura, mais velhas ou que moram mais longe da linha do equador produzem menos vitamina D pela luz solar, e outro problema é a redução na quantidade de raios UVB no outono e no inverno também.
Por mais que se pretenda evitar qualquer risco de câncer de pele ao se expor ao sol, a verdade é que o uso do filtro solar infelizmente interfere na produção da vitamina D, já que bloqueia a radiação UVB. Portanto, o recomendado é que se tome pelo menos 20 minutos de sol todo dia e sem proteção solar, para que as 10 mil unidades de vitamina D diárias ideais sejam devidamente absorvidas e só então o filtro seja aplicado sobre a pele (e de preferência só no rosto). Há alimentos que também fornecem vitamina D, como salmão, atum, sardinha, arenque, ovos e carne bovina (todos de origem animal), mas não são suficientes nem tampouco se comparam aos 90% da vitamina provenientes da exposição ao sol.
O recomendado é que se tome pelo menos 20 minutos de sol todo dia e sem proteção solar.
Uma solução contra a deficiência dessa substância acaba sendo a suplementação, que pode ser fornecida via orientação médica. No entanto, deve-se ter cuidado com o excesso da vitamina. Como a vitamina atua na absorção de cálcio pelo corpo, um excesso poderia levar a altas concentrações do mineral no sangue e depósitos nos rins, levando a cálculos renais e até mesmo lesões permanentes. Então, o importante é sempre consultar um médico antes de fazer qualquer uso desses medicamentos.
■ Por Carlos Magalhães
Mestre em Jornalismo.